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terça-feira, maio 30, 2006

Sobre o tempo e a amizade


A vida explicou-me muitas coisas. Coisas a mais, talvez, porque algumas delas eu preferia não ter aprendido, preferia tê-las sabido pelas experiências dos outros, mas não, sofri-as na pele, de uma forma violenta, dura, agreste, de tal forma tudo isto, que por vezes pensei em renegar princípios e valores, pensei renunciar a tudo a aquilo em que acreditava, e mudar. Mudar para ser mais dos tempos que correm, usar alguns méritos que tenho em proveito próprio, ser egoísta, marimbar-me para os outros, calcular, ser mais flexível, ser mais "dado", deixar de ser o tipo próximo, o Quim Manel. Pensei, mas não passei disso. Nunca iria conseguir. E também é verdade que nunca quis conseguir. É mais ou menos a mesma coisa que pensar deixar de fumar, mas nunca ter levado a coisa a sério, e continuar a fumar.

Vocês conhecem-me. Há tantos anos! Sabem que sempre fui um puto reguila. Um verdadeiro revolucionário, se bem se lembram os mais velhos, os que são tão velhos quanto eu. Sempre na linha da frente da maluquice dos tempos da inconsciência, um combatente, namorador, provocador. Continuo assim. Continuo a gostar de afrontar o poder e continuo a gostar de ser o que sempre fui.

E porque continuo a ser o mesmo, quedei-me, em tudo o mais, no tempo. Violentamente, percebi que os amigos que tenho foram aqueles que fiz enquanto estudante, na Secundária, na Faculdade, no jornalismo. São esses os que perduram. Quando me tornei um tipo mais ou menos destacado, conheci muitas pessoas, mas, delas, não sobrou qualquer amizade. Porque a partir de determinado tempo, as pessoas aproximam-se não por amizade, mas porque lhes dá jeito. Claro que há sempre excepções, mas, honestamente, na parte que me toca, não me lembro de nenhuma.
Vejam só isto: tenho três estagiárias (gostava de ter mais, mas não posso). Todas elas são filhas dos amigos dos tempos da idade da inocência.

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