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segunda-feira, julho 03, 2006

O apito e os calções

Havia o campo de futebol. A princípio não tinha balizas, eram umas oliveiras que faziam o limite. Depois puseram lá umas balizas de metal. Antes das aulas começarem, os que chegavam mais cedo iam para lá jogar. Nos intervalos não havia grande tempo de ir para lá, a não ser que algum professor faltasse, o que também não era costume. Como os invernos eram muito rigorosos e as salas não tinhas as condições das de hoje, após os jogos havia sempre uns odores reminiscentes que ficavam presentes nos narizes dos colegas da turma.
Depois da hora do almoço, enquanto se faziam horas para ir para as aulas da tarde, os que chegavam cedo ou que comiam na cantina - uma justa homenagem à Maria Augusta que fazia o comer - faziam duas linhas e jogavam. Fizesse chuva ou sol esses jogos eram imperdíveis e todos se "esforravam" para que os mais velhos os incluissem no jogo. As bolas eram pesadas e como o campo era de terra não aguentavam muito tempo. Então, como meu pai ia ao Porto todas as 5ªs-feiras, ia a um sapateiro que havia na Ribeira que as cosia. Assim, quando ele chegava com a bola "oficial" do jogo era implícito que era também o árbitro, função para a qual tinha um apito oficial que ainda hoje guardo. Isto foi assim durante muitos anos.
Só que um dia a avaliação do "árbitro" não coincidiu com a da assistência. E esta em unissono gritou "Gatuno, Gatuno, Gatuno". Aquilo deve ter-lhe batido no fundo da alma! A forma como a entoação saíu teve como resultado imediato um estridente apito e um autorirário "Menino, dá cá a bola". Ninguém se atreveu a tecer quaisquer comentários. Logo se adivinharam as consequências daí resultantes. A partir daquele momento o sapateiro da Ribeira deixou de ter cliente para coser as bolas.
Até que um dia, em 1973, apareceu um novo professor que tinha jeito para o desporto, embora fosse da linguas. E certo apareceu àquela hora para jogar. Todos ficamos espantados a olhar para ele: uns calções à inglesa azuis e uma camisola amarela mais chuteiras e meias a condizer! A princípio ficamos atónitos com aquela visão! Se calhar ficaria tão envorganho pela falta de jeito, que depois não viria mais! Mas o homem corria que se fartava e tinha algum jeito para aquilo. Ficou a pertencer alternadamente às duas linhas e ao Marco em definitivo. É claro o dr. Nuno Lameiras.

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