Corria o ano da graça de mil nove sete quatro. Andavamos no 4º ano e o ambiente era fantástico no Externato D. João III, vulgo colégio. Como eu era dos primeiros por ordem alfabética tinha o "azar" de ficar na turma dos rapazes, a A. Outros mais afortunados, como os que começavam por J, ficavam na turma das meninas. Aquilo dava cá uma raiva... a vantagem era que eles, o da B, não jogavam nada futebol, um verdadeiro afago para a alma. Ainda sou do tempo que após a entrada no portão, se formavam duas filas, a da esquerda para as meninas a da direita para os rapazes. No intervalo nada de misturas, cada género no seu espaço. O local onde podíamos estar juntos, era na rampa da frente que era o sítio mais fotogénico para as fotos de grupo. Guardo religiosamente uma foto do 3 ou 4 ano - a memória não vai tão longe - e outra de grupo com todos os anos. Se as pusesse em leilão dava mais do que a medalha do Mourinho, não acham? Não! Não vale a pena que não estão à venda. O que posso fazer é cobrar ao segundo para as mostrar.... Ah! Ah! era só a brincar... Nesse ano tive uma paixoneta - aqui revelada em 1ª mão - pela Teresa Ruão e que num passeio a Viana do Castelo, pois onde havia de ser? - também tenho essa fotografia -, com passagem por Ponte de Lima e Arcos de Valdevez para comprar rebuçados e parti-los contra os varões da camioneta, ficou a meu lado toda a viagem. Raio de azar! Fiquei de beiço por ela, mas para não se saber...
Nessa época tinha por hábito adormecer ao som do rádio com que meu pai ouvia a BBC e a Rádio Argel. À noite dava, tal como hoje, música mais calma a apelar ao sonho, à loucura, enfim, à adolescência. As células ficavam tolas, todas em rebuliço umas contra as outras que era uma coisa... vinha logo à memória a turma B e de repente... aparecia a Teresa Ruão à minha frente e eu adormecia com "o nosso segredo".
Sabia pelo que ouvia que a política não era o que nos queiram fazer crer. Muito do que ouvia também não percebia, diga-se a verdade. Mas que as coisas lá fora não eram o mesmo que cá dentro, isso percebia e bem.
Até que um dia, ao acordar abri a persiana e como o meu quarto dava para o recreio vi a Luísa Orvalho a dar ordens a todos. As coisas estavam fora do lugar. Mas o quê? Levantei-me e, sem saber, fui ter com a Liberdade.
Era, uma 5ª-feira, dia 25 de Abril.
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